5 de jul. de 2010

Crianças criadas por animais

Por cinco anos, Oxana Malaya viveu entre animais, comendo alimentos crus e restos encontrados nas vizinhanças dos vilarejos. Os pais, alcoólatras, abandonaram a menina aos três anos de idade e desde então ela foi adotada por uma matilha de cães. Isso aconteceu no vilarejo Navaya Blagoveschenka, na Ucrânia.



Cinco anos depois, em 1991, um cidadão informou às autoridades locais o avistamento de uma criança vivendo entre os cães. Ela foi resgatada: tinha oito anos na ocasião. Seu comportamento era totalmente canino: andava de quatro, latia, rosnava, bebia água diretamente das fontes e quando se molhava, sacudia o corpo inteiro tal como fazem os cachorros.



Recolhida a um orfanato, ali foi ensinada a andar em postura ereta, comer com as mãos e falar. Aliás, Oxana nunca desaprendeu completamente o pouco da linguagem humana que havia aprendido na primeira infância; entretanto, apesar do esforço dos professores, ela jamais recuperou a condição a humana e apresenta, recorrentemente, comportamento animal.



Em 2002, Lyn Fry, psicóloga britânica especialista em crianças autistas e casos de feral children, foi à Ucrânia ver Oxana que, atualmente, vive em uma instituição para doentes mentais. Fry encontrou uma jovem de vinte e três anos com mentalidade de seis e surpreendeu-se com o que viu: "Ela gosta de ser o centro das atenções, age como um humano mas freqüentemente o comportamento sofre reversão e ela age como um animal. Seu modo de falar é estranho, sem inflexões mas ela tem senso de humor. Quando dei a ela animais de brinquedo, ela me agradeceu. Em uma primeira impressão, você não pode imaginar que ela foi criada entre cães.



O pai de Oxana foi localizado; da mãe, não há notícias. Pai e filha reencontraram-se durante a filmagem de um documentário televisivo sobre o caso. A jovem tem esperança de voltar a viver com a família mas os especialistas não acreditam nesta possibilidade. Sua personalidade é frágil e sua adaptação à sociedade parece ser completamente impossível.




Feral child ou wild child (crianças selvagens) são definidas como pessoas que desde a mais tenra idade - na primeira infância que vai de 0 a 7 anos - viveram isoladas de contato humano e, assim, tornaram-se incapazes de socialização e aprendizado normal da linguagem. Cerca de uma centena de ocorrências foram registradas até hoje (2006).



Um dos casos mais conhecidos é o do garoto Victor de Aveyron, descoberto em 1797 e retratado no filmeThe wild child, de François Truffaut, 1969. Em 1828, o jovem Kaspar Hauser ocupou as manchetes dos jornais e sua história também chegou às telas do cinema: O enigma de Kaspar Hauser, de 1974. Mais recentemente, em 1970, a menina Gennie foi achada na Califórnia depois de passar 13 anos enclausurada em completa escuridão.


Cartaz do filme de François Truffaut

O Enigma de Kaspar Hauser, encontrado vagando em uma estrada de Nuremberg, desumanizado, aparentando 16 anos. O passado envolto em mistério, comentava-se na época que era o herdeiro da coroa de Napoleão Bonaparte, fato que, supostamente, teria motivado seu assassinato, em 1833.
Muito famoso também é o caso das meninas indianas Amala e Kamala, descobertas em 1920 pelo sacerdote J.Singh, vivendo entre lobos na floresta de Midnapore. Muito jovens, Kamala tinha cerca de oito anos e Amala não passava dos três. Completamente animalizadas, as crianças tinham desenvolvido a musculatura de modo que só podiam andar de quatro, eram notívagas e nutriam-se exclusivamente de leite e carne crua. Nunca desenvolveram linguagem. Amala morreu logo, menos de um ano depois do resgate. Kamala sobreviveu ainda por nove anos.
O jovem encontrado entre gazelas, na Síria e as famosas meninas indianas Amala e Kerala.
No deserto da Síria, um garoto com idade entre 10 e 15 anos foi encontrado em 1946. Adotado por gazelas era extremamente esbelto e forte, capaz de correr a uma velocidade de 50 km por hora. Muitos outros casos foram registrados de crianças que sofreram processo de desumanização ou animalização, não somente aquelas que cresceram entre lobos, ursos, macacos ou cachorros selvagens mas também, crianças que foram mantidas em isolamento completo durante muitos anos de tal maneira que não desenvolveram qualquer característica de socialização, sendo incapazes de falar e se movimentar de maneira normal.

A análise destes fenômenos demonstra, claramente, que a condição humana ou, de homo sapiens, não é decorrrente de uma mera programação biológica mas, antes, resulta de todo um processo de interação entre as pessoas e a cultura. Resta saber onde os primeiros humanos foram buscar os exemplos de sociabilidade que fizeram a espécie evoluir da animalidade para a civilização. Esse é um mistério que os antropólogos não conseguem entender e faz pensar sobre as mitologias que falam de instrutores "divinos" que teriam retirado os primeiros hominídeos do estágio de selvageria para conduzí-los ao estado de verdadeira humanidade.

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